História da Libras

 
A língua brasileira de sinais (LIBRAS) é a língua de sinais (língua gestual) usada pela maioria dos surdos dos centros urbanos brasileiros e reconhecida pela Lei. É derivada tanto de uma língua de sinais autóctone quanto da língua gestual francesa; por isso, é semelhante a outras línguas de sinais da Europa e da América. A LIBRAS não é a simples gestualização da língua portuguesa, e sim uma língua à parte, como o comprova o fato de que em Portugal usa-se uma língua de sinais diferente, a língua gestual portuguesa (LGP).
Assim como as diversas línguas naturais e humanas existentes, ela é composta por níveis lingüísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica. Da mesma forma que nas línguas orais-auditivas existem palavras, nas línguas de sinais também existem itens lexicais, que recebem o nome de sinais. A diferença é sua modalidade de articulação, a saber visual-espacial, ou cinésico-visual, para outros. Assim sendo, para se comunicar em Libras, não basta apenas conhecer sinais. É necessário conhecer a sua gramática para combinar as frases, estabelecendo comunicação. Os sinais surgem da combinação de configurações de mão, movimentos e de pontos de articulação — locais no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos, os quais, juntos compõem as unidades básicas dessa língua. Assim, a Libras se apresenta como um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Como em qualquer língua, também na libras existem diferenças regionais. Portanto, deve-se ter atenção às suas variações em cada unidade federativa do Brasil.


Sinais
Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. Nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros que formarão os sinais:
2.1 Configuração das mãos: São formas das mãos que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros ou esquerda para os canhotos), ou pelas duas mãos.
Os sinais DESCULPAR, EVITAR e IDADE, por exemplo, possuem a mesma configuração de mão (com a letra y). A diferença é que cada uma é produzida em um ponto diferente no corpo.
2.2 Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, ou seja, local onde é feito o sinal, podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro.
2.3 Movimento: Os sinais podem ter um movimento ou não. Por exemplo, os sinais PENSAR e EM-PÉ não têm movimento; já os sinais EVITAR e TRABALHAR possuem movimento.
2.4 Expressão facial e/ou corporal: As expressões faciais / corporais são de fundamental importância para o entendimento real do sinal, sendo que a entonação em Língua de Sinais é feita pela expressão facial.
2.5 Orientação/Direção: Os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros acima. Assim, os verbos IR e VIR se opõem em relação à direcionalidade.

Convenções da LIBRAS
3.1 A grafia: os sinais em LIBRAS, para simplificação, serão representados na Língua Portuguesa em letra maiúscula. Ex.: CASA, INSTRUTOR.
3.2 A datilologia (alfabeto manual): usada para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal, estará representada pelas palavras separadas por hífen. Ex.: M-A-R-I-A, H-I-P-Ó-T-E-S-E.
3.3 Os verbos: serão apresentados no infinitivo. Todas as concordâncias e conjugações são feitas no espaço. Ex.: EU QUERER CURSO.
3.4 As frases: obedecerão à estrutura da LIBRAS, e não à do Português. Ex.: VOCÊ GOSTAR CURSO? (Você gosta do curso?)
3.5 Os pronomes pessoais: serão representados pelo sistema de apontação. Apontar em LIBRAS é culturalmente e gramaticalmente aceito.
Para conversar em LIBRAS não basta apenas conhecer os sinais de forma solta, é necessário conhecer a sua estrutura gramatical, combinando-os em frases.

História da Educação dos surdos

Até o final do século XV, não existiam escolas especializadas para os surdos, pois, na época, eles eram considerados pela sociedade incapazes de serem ensinados como pessoas normais. Julgadas como intelectualmente inferiores, as pessoas surdas eram em geral excluídas do convívio social. Não obstante, na intenção de auxiliar essa classe excluída e marginalizada da sociedade, alguns educadores passaram a desenvolver métodos básicos que facilitassem a comunicação entre todos. Essa comunicação incluía a língua utilizada pelos surdos naquela época com alguns gestos e sons desenvolvidos pelos educadores. Foi a partir dessa junção que se deu o desenvolvimento da Língua de Sinais que conhecemos hoje, a qual proporciona gradativamente uma facilidade no diálogo entre surdos e ouvintes, rompendo um pouco dessa "barreira” existente entre o mundo silenciado e as pessoas que eram consideradas pela sociedade como normais.
Dentre os principais educadores dos surdos, pode-se destacar como sendo o pioneiro no desenvolvimento e na educação dos não ouvintes, o professor francês Charles Michel de l’Epée. Em meados do século XIX, percebendo a necessidade que esses indivíduos tinham em se comunicar, o abade l’Epée resolveu reunir um grupo de surdos em um espaço escolar público nos subúrbios de Paris e criou métodos de comunicação para o grupo. Do ponto de vista do desenvolvimento do ensino dos surdos brasileiros, o professor l’Epée foi um grande facilitador no processo de surgimento da Língua Brasileira de Sinais.
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A partir de então, vários institutos foram desenvolvidos internacionalmente, tomando como base os princípios de l’Epée. No Brasil, a educação dos surdos também teve seu ponto de partida com os métodos de ensino desenvolvidos por tal professor. Dom Pedro II convidou o professor Huet, um surdo aprendiz dos métodos de comunicação do professor l'Epée, a praticar e desenvolver técnicas de ensino com não ouvintes brasileiros. A partir dessa vinda, em 1857, no estado do Rio de Janeiro, surgiu o primeiro instituto educacional brasileiro dos surdos: Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES).


A língua de sinais trazida da França pelo professor Huet, associada aos métodos de comunicação que os surdos utilizavam no Brasil naquela época, deu origem a uma junção de sinais e gestos manuais, corporais e visuais que possibilitaram o surgimento da verdadeira Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).


No INES, os surdos oriundos de diversas partes do país eram escolarizados, recebiam as primeiras lições estudantis e desenvolviam suas capacidades intelectuais e profissionais até então discriminadas pela sociedade. Aos dezoito anos retornavam aos seus locais de origem levando consigo o que aprenderam no INES e conseqüentemente a LIBRAS.



A educação dos surdos no Brasil

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Até a década de 60, como na maioria dos países, o Brasil seguia a orientação dominante, considerando como melhor alternativa para o ensino de crianças surdas o atendimento em separado, já que seus problemas lingüísticos as diferenciavam das crianças ouvintes.
Assim, apareceram muitas escolas especiais para surdos, onde os portadores de deficiência auditiva eram educados, predominantemente, sob o aspecto da reabilitação oral.
A partir dos anos 80, seguindo a tendência mundial de integração, adotou-se nova orientação no campo da educação dos surdos: a integração do aluno surdo ao sistema regular de ensino (Educação Inclusiva - processo de inclusão dos portadores de necessidades especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus).
Tal tendência encontrou respaldo filosófico, legal e político-educacional na Constituição da República Federativa do Brasil (1988) que garante, em seu artigo 208, inciso III, “o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.
Somando-se ao artigo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) atesta a igualdade de oportunidades que as crianças e os adolescentes com deficiência deverão possuir em termos de educação, sendo o Estado e toda sociedade responsáveis pelo seu zelamento (BRASIL, 1990).
Em 22 de dezembro de 2005,o Presidente da República assinou o Decreto n° 5.626. O capítulo IV do decreto trata especificamente do acesso dos deficientes auditivos à educação.